27 de jul. de 2016

Nômades da Bola

"Jogadores modernos são como nômades. Eles seguem o dinheiro, não o coração"

Totti definiu bem o que vivenciamos hoje. Mas, afinal, quem não é nômade? Você não é?

Se pudesse optar pelo glamour de dizer que viverá por uma, duas temporadas (ou até o próximo contrato milionário) em Turim, já tendo sugado a noite romana ou usurpado a cultura napolitana, você não iria?

O futebol é segundo plano, o esporte não é essência, é meio. A ideia de ser um grande ídolo (se é que ela persiste), não perdura, finda logo que o sucesso e o caminhão de notas verdes, gastas pelo número inimaginável de transações escandalosamente caras, caem no colo dos garotos humildes e sem perspectiva no mundo real, onde o talento para o esporte bretão não tem a menor serventia.

Quando veremos novamente a declaração de um amor verdadeiro, não que no momento não o seja, dada a empolgação pela ascensão, o brilho que um grande clube traz aos olhos de uma pessoa, mas poderia não ser efêmero, fugaz. Uma pena!

Dali a um ano, ou, no melhor dos cenários, dois, esse “amor” é relegado, posto de lado, como a um amor de carnaval, onde se apega pra desapegar, pra esquecer da vida e da luta. Ora, se não pode-se aproveitar o que o dinheiro pode trazer, pois qual o sentido da coisa?

Explique esse questionamento ao garoto que aprende futebol na barriga da mãe, que cresce ao som dos berros, foguetório e impropérios que a pelota traz, e, pior, não tem capacidade para estar ali, correndo atrás do melão, sendo ovacionado por 50 mil pessoas... Não, impossível explicar, assim como é impossível compreender o dinheiro sobre a glória, o contrato a frente da idolatria.

Pensemos um pouco, no fim, a culpa não é pura e simplesmente dos ciganos da bola, que giram e giram atrás da mão que lhe pagará melhor. Temo uma sociedade ávida em consumir o espetáculo, informações a todo momento, um modelo do que é “ser famoso”, a estrela do século XXI, com seu patrocínio da maior (ao menos para ele) mara esportiva do mundo, transitando com um bobo (leia-se relógio) dourado, do tamanho de uma laranja e claro, o sonho de consumo, desde o reles mortal até o maior astro do futebol, sua Ferrari (ou seria Porsche)


Não sejamos tolos. Gostaria de propor mais “Tottis”, “Marcos”, “Rogérios”, mas quem sou eu se não um relés mortal torcedor/sofredor, como poderia obrigar alguém a amar ou, pelo menos, respeitar a camisa que veste? Não tenho esse poder.

25 de jul. de 2016

Cérebro

Quem nunca passou por um momento de crise criativa, bloqueio intelectual ou falta de dinamismo (eu mesmo recorri ao google nesse momento pra procurar sinônimos...)?

O seu time, caso não seja são paulino, com certeza já provou desse veneno amargo, e o torcedor tricolor sofre deste mal nesse exato momento. Mal que aflige a companhia comandada pelo quase selecionável Edgardo. Perdeu seu principal articulador, a cabeça pensante, ou seja, o criativo, o toque que disparata a mesmice para milhas de distância. Ganso faz falta.

Como já disse o poeta/filósofo/provável torcedor de algum time que praticou esporte que se aproxime de futebol nos longínquos tempos da idade média, “quem não procura, não acha”, e a nossa diretoria não procurou, logo, não achou. Estamos acéfalos, um bando de atletas performáticos, anabolizados pelos suplementos mais modernos, mas sem rumo, como as baratas do fim do mundo, vivas mas sem direção, se enfiando em buracos inimagináveis, trombando entre si e não produzindo absolutamente nada.

Noves fora a comparação um tanto quanto excêntrica, o resumo da ópera é esclarecedor: precisamos de um novo camisa dez. Não necessitamos de mais um polivalente, um esforçado, um falso nove ou falso jogador. A diretoria precisa se esforçar como nunca para colocar a mística deste número de volta à ativa, Raí já passou por esses lados, Ganso foi o último, qual o próximo?

A última partida foi um ato sofrível dentro do descortinado teatro do futebol, o famoso toco e me voy (a la Galvão Bueno) deu lugar ao “toco e lo que díos quiera” nada sedutor, que não traz qualquer boa sensação que nosso esporte/time pode proporcionar aos nossos olhos nem tão exigentes assim.

Que este momento de crise, a crise das ideias, seja breve, que nossos dirigentes se cossem e entendam que a arte faz parte do futebol e, sem um camisa dez que imponha respeito, não há arte, há guerra. E essa guerra não ganharemos.


19 de jul. de 2016

A Hora e a Vez de Denis

O ano era 2009, a estreia ocorrera em 24 de maio daquele ano, após contusão da incontestável lenda que defendeu a meta tricolor por mais de 20 anos.

Denis chegou ao morumbi como promessa, com 22 anos à época, contratado junto a Ponte Preta, e trazia na bagagem a responsabilidade de ser o substituto do maior ídolo da história do clube. Fora preparado para tal, a expectativa da torcida e imprensa era no sentido de que o antecessor saísse com a meta protegida, com um discípulo seu a tira colo, mas não foi bem o que aconteceu...

Após 7 anos, inúmeras participações como substituto e atuações questionáveis (ao menos para o gosto do torcedor) Denis se tornou titular. Não só isso, trouxe junto a tarja de capitão a tira colo, herdada de seu ex companheiro.

A sorte fora lançada, a hora havia chegado. Depois de tanta angústia, adiamentos improváveis, contusões, reclamações, Denis finalmente alçou o vôo que tanto almejava, se tornou o arqueiro de um dos maiores clubes do mundo. Mas e agora?

Inconstância é a palavra a ser talhada neste post. O goleiro em seu início, sofreu com a “inexperiência” que só a regularidade, a sequência e a alcunha do titular podem cicatrizar. Alternou grandes defesas com momentos de pastelão, dignos dos áureos tempos de Didi e sua trupe. Na mesa do bar não se apostava uma caninha em seu sucesso (creio que ainda não se aposte).

A evolução é perceptível, ajudou o tricolor a seguir na Taça Libertadores o mais longe que nossas limitações pudessem sugerir. Fez um clássico seguro contra o corinthians no último domingo, com defesas difíceis, apagando o sombrio e fatídico 22 de novembro de 2015, onde sofreu o que seria o pior revés de sua carreira, a goleada para o mesmo rival em Itaquera.


Resta agora aguardar, com contrato renovado por mais um ano, Denis tem a chance de se mostrar valioso. Conta com o suporte da diretoria e comissão e sabe que não pode falhar, afinal, substituir o MITO é um fardo que não compete a quem se esconde, a quem se retrai. Nos resta a torcida para que o arqueiro tenha sucesso nessa empreitada, adquira cada vez mais confiança e possa defender essa meta que tanto nos deu glória e solidificou nossa
rica história.

17 de jul. de 2016

Dia de Clássico

Oscar Ulisses é o personagem que tenho na memória que me fez dar início a essa magia inexplicável que ocorre em dia de clássico. Me lembro quando pivete estar em diversos lugares e momentos sempre ouvindo a voz discrevendo lances de diversos duelos entre os principais clubes de São paulo.

Eu sempre soube que era dia de clássico mesmo quando não compreendia o futebol. Quando não tinha idade pra ir ao campo, sabia pois a movimentação para ir ao jogo era intensa, todos com a segunda pele já incoporada, o comboio que partia ao som do buzinaço, a velha desculpa do velho de que estava indo trabalhar e por isso me deixava pra trás.

Seja no carro, em meio a um temporal violento, num São Paulo x Palmeiras, onde a idade não permitia diferenciar de quem havia sido o gol, seja na garagem de casa, onde um Corinthians e São Paulo fazia a lavagem do carro ser secundário, a lata de cerveja a tira colo do velho e a ansiedade  que esse narrador trazia (traz) que me fazia ficar mais confuso e ansioso que o normal.

"Pro goooo... Fora!!". Ó, como isso me frustrava (ainda frustra), mas o mais inquietante era saber pra qual lado a bola tinha estufado o barbante. Depois desse momento, em que a dúvida cruel pairava, gol ou não, saber de quem foi era a segunda preocupação.

Depois de concluída a segunda etapa, vinha o momento da vinheta, ou, pra mim, A Musiquinha do Gol. Esse momento trazia sentimentos diversos pois sempre achei muito empolgante ouvi-la depois de um tento, mas e se o gol fosse do adversário, do rival, do inimigo? Sei que não devia me importar muito com isso, pois os palavtões proferidos, a lata de cerveja voando ou a mangueira sendo atirada ao chão, como se fosse possível machuca-la (mais do que o gol sofrido machuca n'alma) revelavam que não era o melhor momento para aprecia-la, mas as vezes era difícil não cantar...

Hoje tem clássico, hoje o dia é longo e se arrasta a espera do momento do jogo, mas o que havia antes, a atmosfera, a festa das torcidas (maldita torcida única), as bandeiras, gritos e rezas, já não existem mais.

Mas quem se importa? Hoje é dia de clássico!

14 de jul. de 2016

A Dama e o Vagabundo

Há quem diga que a história poderia ser diferente. Há quem diga, também, não sem efeito, que o desfecho seria o mesmo sem os erros, eliminação e frustração, fim do ópio que contagia e contamina o torcedor.

A TL terminou para o Tricolor, mas não sai da cabeça assim tão fácil, como num porre que tomamos e logo a esquecemos restando a dor nos córneos típica dos bons beberrões. Fica o alento da luta dos bravos, não se renderam, mesmo com a limitação de um pobretão que sai à luta na gélida noite glamourosa de Paris ou Milão.

Buscamos sentar à mesa dos endinheirados mesmo sabendo dos nossos consignados e conta bancária negativa. Ousamos debater Sócrates ou Platão tendo aprendido apenas a filosofia barata do Botequim. Fomos altivos.

Mesmo que as condições fossem desfavoráveis, o momento inoportuno e a situação imprópria, chegamos longe. Ultrapassamos a fronteira do imponderável, do improvável e, evidentemente, caímos, mas caímos, no jargão mais popular de botequim, o do seu zé, ali na esquina, de pé.

Nos lambusamos enquanto pudemos do caviar e do pró-seco, mesmo sem ser convidados, mesmo com os trapos deixados pelo último senhorio, mas sempre portando a elegância de outrora, elegância que traz respeito, e que nos trouxe até aqui, até o momento derradeiro desta coluna, até o fechar das cortinas do espetáculo superestimado (quem sou eu pra subestimá-lo) chamado Taça Libertadores da América, sonho de consumo que ficará pra uma próxima.

Que nos remontemos e mostremos a nossa capacidade de estar entre os bons de fato, com o devido convite pro baile de gala e o traje adequado. No mais, foi ótimo participar da festa sem ser convidado e brilhar.








7 de jul. de 2016

CABEÇA ERGUIDA

Quem te disse que pra ter orgulho precisa vencer?

Não, nem o mais otimista desse mundo de vosso deus acredita numa reviravolta, apesar do discurso pronto de que a decisão tem 180 minutos e etc...

O São Paulo atingiu seu limite, e não fico triste com isso, pelo contrário, de um time completamente desnorteado no início da temporada à semifinalista do maior torneio das Américas. Claro que o sonho ficou grudada na retina e no pensamento, mas convenhamos, o elenco deu além do que poderia e deveria.

Maicon foi herói, mas usou da loucura dos bons para perder a cabeça e, mesmo de forma exagerada, acabou sendo ponto divisor para o resultado. Porém, não acredito que a classificação seria tarefa menos complicada com o novo xodó da torcida em campo. O time colombiano tem ares de campeão, sabe jogar bola, tem uma herança do Profe Osório que é riquíssima técnica e taticamente, ou seja, é superior ao time do morumbi.

Daquelas lutas medievais onde sabíamos não ter chances, mas tínhamos a vontade e a garra, com adversários muito melhores armados, com suas catapultas, flechas que pegam fogo, guerreiros mais preparados e em maior número. Já nosso clã, gigante pelo nome que carrega, veio combalido, com uma administração lesiva nos últimos tempos. Perecemos.

Mas ergamos a cabeça, aplaudamos nossos jogadores e tracemos um norte, onde as próximas batalhas sejam melhores estudadas, novas estratégias sejam traçadas e a conquista seja algo possível.


Parabéns pelo empenho, caros tricolores!

5 de jul. de 2016

Quarta Mágica

Viver uma semifinal de Libertadores é um privilégio para poucos.

Quantos anos de espera para desfrutar esse momento quase ultraterrestre. A ansiedade, a angústia de acordar na terça, véspera, imaginando já o outro dia, projetando a glória ao lado da desgraça, do infortúnio do insucesso.

Ao passo que muitos dizem a famosa frase cunhada pelos ateus da bola, “é só um jogo”, nós, fiéis e absolutamente crentes nessa caótica religião, o futebol, somos predestinados ao sofrimento. Sofrimento antecipado, de quem sabe que já ganhou, mas que, mesmo assim, também perde.

E quando perde, perde a esperança, perde a dignidade futebolística, aquela que não te deixa mexer no celular durante boa parte do dia, sem se quer olhar as mensagens essenciais para o andamento útil das coisas, o pós terra arrasada.

Oxalá isso passe longe nesta quarta, oxalá os ventos de inverno, típicos da fase final do quase glamouroso torneio, tragam um milagre que somente a verdadeira santa milagreira, a bola, pode trazer: a vitória.

A quinta pode ser de prazer ou de melancolia, mas nada perdido, ao menos é o que se espera de uma disputa desse quilate, resta saber se as preces e orações serão atendidas ou se serão colocadas com milhões e milhões já deixadas de lado pelos deuses da bola, naquela gaveta antiga que serve só pra guardar velharia e coisas que não nos interessam.

Que a nossa, caros tricolores, seja prazerosa.


4 de jul. de 2016

ATÉ QUANDO?

Errar contra seu time é das piores coisas da vida (de quem gosta de futebol), mas quando o erro é a nosso favor...

No jogo entre Ponte Preta e São Paulo, assisti a uma das cenas mais bizarra e constrangedora do planeta bola. Uma “mudança de opinião” do árbitro da partida, Vinícius Furlan, em uma falta de Matheus Reis em cima do jogador adversário, um carrinho violento, típico de cartão amarelo, como foi dado a princípio.

Ocorre que após o atendimento ao jogador, o banco da macaca pressionou o árbitro para que revisse sua decisão, e, pasmem, deu certo. O árbitro voltou atrás e acabou expulsando o lateral tricolor.

Não cairei na vala comum, mesmo sabendo da culpa do juiz, mas proponho uma reflexão profunda para entendermos os rumos que o futebol brasileiro está tomando, e quais são as atitudes possíveis para melhoria.

Todo o complexo organismo que bota o futebol em funcionamento no país está defasado, propagação do “espetáculo” pela mídia, que se limita ao monopólio de uma única empresa, os desmandos dos comandantes de federações e confederações, a precária condição de trabalho oferecida aos profissionais ou não (leia-se árbitros), enfim... Todo o entorno, o que rodeia o esporte mais popular do país está anos-luz atrás do restante dos países que apreciam o jogo.

A arbitragem, que tanto criticamos quando nos prejudicam, é afetada diretamente por este circo, não são profissionais, não tem a devida instrução, são orientados a amarrar o jogo no estilo “à brasileira” e, a cada rodada, cometem erros cada vez mais grosseiros.

Não há critério uniforme para as decisões e os jogadores ficam a mercê da sorte e da boa vontade que nem sempre os donos do apito possuem. O problema são os árbitros? Não! Eles são o efeito. A causa nós sabemos, mas como bons brasileiros, temos preguiça de combater.

Fica o registro do descontentamento do Blog com o descaso que o futebol brasileiro vem sendo tratado, com as mazelas que movimentam milhões para a conta de uns poucos gatos pingados, que usurpam um patrimônio histórico e cultural do brasileiro: O Futebol.

Fica a questão, até quando?