28 de ago. de 2017

Segue o jogo

Clássico é clássico e vice versa. O detalhe definiu nossa sorte e selou mais uma derrota no campeonato tupiniquim. Em terras alviverdes, o tricolor mostrou que tem bala pra trocar e pode ressurgir, mesmo que tardiamente, à disputa.

Bola na trave, chance perdida, falha individual; o choque rei teve ingredientes de sobra para acreditar na virada, na reação. Marcos Guilherme, que imantou a bola aos pés, poderia ter tomado melhor decisão antes do terceiro gol adversário, preferiu a fome e não pensou na vontade do outros, que também queriam comer.

Dos despropósitos da pior fase, Pratto sucumbiu junto à zona da confusão e deixou o campo justo quando podia dar mais; o choque da cabeça com o joelho profético (que voltou a marcar) foi determinante à queda de rendimento e custou caro.

O próximo confronto é em casa, Ponte, e por óbvio só a vitória interessa. Mais uma chance de ratificar uma evolução e respirar das profundezas dessa pedra que é a série B. A torcida é peça chave e deve lotar o Morumbi, como já tem feito.

O tom crítico, mesmo apoiando, é útil e que Dorival atente à carência técnica de nossos laterais, esforçados, mas limitados. Para além, seria de bom tom já tomar por base a necessidade de novas peças para o ano que se aproxima, principalmente pelos lados do campo.

Pois, torcedor são paulino, o campeonato ainda lhe reserva emoções. Prepare o coração de cinco pontas, que este vai palpitar ao longo dos próximos meses e trazer sensações que não havíamos jamais nos permitido sentir. Que seja uma experiência e sirva de ponto de partida para uma reinvenção.

26 de ago. de 2017

Que torcida é essa!

Dentro das quatro linhas a coisa não anda; atrás da mesa, nas cadeiras confortáveis dos cardeais, desanda; a torcida comanda. Se o São Paulo vive, vive por nós, por mim, por você.

O clássico será decisivo, e os times vem mal. Algum fato novo deveria ser apresentado, algo que criasse um ambiente e tirasse a letargia da nossa equipe. E aconteceu... 18 mil pessoas no treino pré-clássico é algo pós moderno, uma arte revelada ao mundo novo e que cria novos paradigmas. 

A salvação da lavoura passa especialmente por esse tipo de reação; se em outros tempos a coisa se "resolvia" a socos, pontapés e furtos de galões d´água, hoje a maturidade bateu à porta. O torcedor percebeu seu papel e sua capacidade de cura, fez a parte que lhe cabe e além.

Que este ato de empatia com a entidade respingue sobre quem toca na bola, sobre os caras que correm atrás do melão. A torcida clamou, pediu e deu a cara, agora pede a contrapartida e ela é possível, basta boa vontade e compromisso. 

O São Paulo Futebol Clube se mostrou, hoje, maior do que sua imaginação algum dia já alcançou. Um dia para ser lembrado, mas um dia para subir à montanha da reflexão: merecemos sofrer dessa maneira?






23 de ago. de 2017

Tomar gol também é belo

O esporte sempre permeou todo e qualquer momento que me vem à memória, desde o princípio da compreensão das coisas. Uma constante desde a primeira infância, vivenciei as disputas desportivas de forma assídua, o que persiste até data presente.

Das disputas, me propunha a pratica de toda e qualquer modalidade, mas com um viés claro evidenciado: o gol. Nas alterações hormonais da juventude, balançava entre posições. Ora gostava de fazer o gol, ora encontrava a beleza na defesa da baliza.

Contudo, a arte que encontramos em todas as partículas vivas até onde a visão alcança, não se baseou no jogo em si. O contexto é algo que cria e move o sentimento, caracterizado pelo conjunto de fatores que tratam de delinear uma atmosfera de prazer. Neste contexto, voltando à juventude, defini em determinado momento que gostaria de ser goleiro, lastimável.

Adepto da plasticidade, tinha em mente uma única finalidade para a minha não tão bem aventurada ida à meta: tomar gol bonito. Claro, ninguém entra em campo (ou quadra) para perder, mas comecei a encontrar beleza à solidão cruel do goleiro no momento de um belo gol, um gol de placa, afinal, sua arte se completa quando da desgraça do guarda metas, ou seja, o goleiro é complemento imprescindível de tal obra.

Passo, pois, a descrever minha ideia de um belo gol, no qual eu era parte fundamental buscando a bola no fundo das redes: a jogada se constrói desde o campo de defesa adversário, iniciando o ataque pelo goleiro, que solta a bola ao beque de fazenda, este, de simples (e bico), empurra a bola direto ao meia, o 10, que já na intermediária de ataque faz uma bela finta de corpo no marcador, o volante brucutu, e dispara com a canhota, chapando a bola com uma curva generosa, que encontra a rede lateral do retângulo, caindo suave após um deslize vulgar. Golaço!

Meu papel, enquanto última esperança de salvação, seria o de observar estático ao centro do gol, com um movimento calculado, onde somente o pescoço toma a ação com a missão de mover os olhos à admiração. A dúvida no grand finale do misancene ficava entre permanecer em pé ou criar um novo movimento, já após a efusiva comemoração do rival, onde dobro as pernas e caio para trás, apresentando aos demais o retrato da desolação. Escolhi ficar de pé, petrificada pela magnitude do momento que criei.


Claro, o resultado de tal empreitada não poderia ser outro se não a abreviação de uma carreira nada promissora. Abandonei a ideia ao primeiro ato, já que os demais não entenderam a arte suprimida, mas carrego esta polaroide grudada na cabeça, sem culpa de ter vivido a magia do gol. 

21 de ago. de 2017

Ressaca na ressacada


As rajadas de vento na ressacada contrastaram com o futebol magro apresentado pelos times no domingo cinzento. Mais um empate, de volta à região inóspita e com a sensação de dever não cumprido.

Parecia ressaca do domingo anterior; o São Paulo novamente com muita dificuldade em criar, chutar, fazer gol... Hernanes salva, visto que sem ele o buraco seria mais embaixo, obscuro. O campeonato se esvai, as rodadas se sobrepõem e a necessidade só aumenta.

No clássico, novamente, não pode se pensar em outra se não a vitória. Dai-me forças, que o coração já dói a cada domingo.  Vi o Inter, o Palmeiras, o Corinthians; vi seus respectivos fanáticos chorarem à queda, e que não seja eu o próximo.

Pratto volta, que esteja descansado, Sidão acordado, e Cueva, assim como o Profeta, com o pé calibrado. A cartilha da zona vem sendo seguida à risca, passo a passo, como um roteiro programado e arquitetado para ser fatídico. Um twist na trama salva, nada além disso.


Dorival não é Muricy, precisa dar nova roupagem à equipe. O duro é ter o carro andando para a troca, perigo constante, acidentes e falhas são características de tal situação. Lamentar fica cada vez mais evidente, o fundo é logo aqui, é palpável e desagradável. Oremos, ó nação tricolor!

18 de ago. de 2017

A vez de Cidão com "S"

Dos ditados batidos do futebol, o São Paulo vive o seu dilema: Time bom começa por um grande goleiro. Cidão com “S” tem mais uma chance de mostrar seu futebol, se joga a luva ou se abre porteira. De idade avançada, estourou tarde pro mundo futebolístico, mas pode ser útil às pretensões da equipe, que viu em Renan alguém pouco confiável, tanto desportivamente quanto nas negociações para renovar seu vínculo com o tricolor.

Surgiu o burburinho da procura de um goleiro estrangeiro para a próxima temporada, ora, daqui não se cultiva nada? Não se produz um arqueiro capaz, sem a necessidade de alçar voos pela SulAmérica bolivariana? Confesso que sinto falta de alguém que segure não só a defesa, mas um bom par de jogos sem sofrer gols ou deixar a pelota escapar por entre os dedos, contudo, penso ser mais saudável tratarmos essa questão de Estado lá pelos lados de Cotia, papo de base, a lá R. Ceni. Mas que Sidão tenha nova chance, oremos.

Outro ponto dolorido, mas compreensível, é a decisão de Gilberto, o artilheiro do cangaço, seguir a vida longe da Barra Funda sitiada. Esforçado, fazedor de gols, não terá espaço enquanto L. Pratto for nosso, merece jogar mais, e que seja feliz enquanto dure o próximo casamento.


Para além destas questões cotidianas, o time volta pro campo domingo, pega o Avaí, adversário direto (lamentos) e precisa se impor, vencer mesmo sem convencer. A desculpa deve dar lugar aos gols, a três pontos urgentes que trariam a leveza de uma boa dose da morfina ao paciente enfermo. Xô, zona da confusão!

14 de ago. de 2017

Proibido sofrer

Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, onde os mandatários, cardeais tricolores, só farão exercer seus podres poderes?

No dia dos pais deveria ser proibido sofrer de São Paulo; deveria haver uma lei mundial onde sempre teríamos vitória sem sofrimento, sonho. O que aconteceu na partida contra o Cruzeiro nada mais é do que uma mostra do que vem por aí: sofrência.

Se não há a torcida, não há o São Paulo, pois que quem salva do rebaixamento, além dos chinas que cederam o Profeta, somos nós. A depender de quem assina o contracheque, já teríamos ido dessa pra uma muito pior. A vitória foi daquelas de tirar o folego, de novo, em que se fica triste, eufórico, triste e eufórico durante ao menos duas horas.

Que fiquemos de olhos abertos, o resultado engana, o time vai mal; Cruzeiro de time misto, apesar da freguesia, focado em outra competição. Vai ser doído, cambaleando e trançando as pernas, mas é possível. Yes, we can!


Foi um belo presente aos pais, a nós, mas podia ter sido mais fácil! Algumas peças sofrem à má fase, Rodrigo Caio rateou, Bufa não acerta muita coisa e Petros reclama... Que a vitória traga ventos mais brandos e os caras amenizem o nervosismo que a zona do perigo causa.

11 de ago. de 2017

Para a torcida tricolor

Num universo paralelo, a torcida tricolor é gigante. Neste universo, também! Diametralmente oposta a relação torcida-dirigentes, onde a primeira mostra que quem carrega o São Paulo é ela mesma, não importa o tempo ou a razão. A segunda se esquiva, subtrai e trata o clube como mero passatempo.

Uma queda moral já consolidada contrasta com a paixão do torcedor, que carregará seu time até as últimas consequências, fará do campeonato seu parque e empurrará a equipe até o último suspiro. Atrair mais 100 mil pessoas em apenas dois jogos faz com que a fábula do futebol seja reforçada, massificada.

O plano de quem  fica por trás da mesa nunca é o plano do que senta no cimento da arquibancada. A visão lá de cima é ampla e enxerga de acordo com as batidas do coração, a pulsação da coronária, que na queda, bem como na vitória, acelera, grita desespero, mas atrai e contagia.

Domingo de decisão, não a que estamos acostumados, mas com os mesmos ingredientes: torcida presente, clima do lúdico e dos pais. A vitória é mera consequência, pois a ode à torcida já está devidamente escrita, restando apenas o trabalho manual do mais excêntrico poeta vivo (ou morto) para lhe dar a tinta sobre o papel.

Dos mais de 50 mil presentes ao nosso coliseu, me farei junto de espírito, já que a data me é reservada à comemoração de um símbolo, que é o de se tornar pai. Símbolo que sobrepõe a vontade de estar presente à luta, de representar o sentimento que atordoa nas horas difíceis, mas que é sempre a mesma locomotiva disposta a aumentar a velocidade no sentido de empurrar pra vida.

7 de ago. de 2017

São Paulo de todos os santos

Iemanjá é a rainha dos mares, tida como mãe de quase todos os orixás, presente à cultura baiana e famosa por apadrinhar pescadores, moradores e visitantes que se habilitam a pedir sua benção quando de passagem por São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Passagem que causou estragos ao tricolor, que não coube nos braços dessa célebre figura.

Dos pedidos e orações soprados desde São Paulo até a capital baiana, de nada adiantou gastar a prosa africana que abençoa o povo de lá. Derrota após derrota, o tempo passa, a maré sobe e a água, abençoada pela majestade dos oceanos, vai sufocando.

A Bahia presenciou mais um capítulo desse drama que, parece, perdurará por todo o campeonato. O returno chega e traz a angústia de quem frequenta o abismo de forma ameaçadora com uma assiduidade assustadora, como quem brinca com fogo e dá de ombros.

As estrelas dessa nau precisam se impor, reviver e jogar a bola que até agora não jogaram. Um quarteto ofensivo que, no papel, impõe respeito a qualquer adversário que tenha o mínimo de cuidado, tem se esforçado a se esconder, a fugir da batalha.

Que Dorival tenha peito e ideias para reinventar e sobreviver; a fuga do naufrágio iminente passa por esse cabo da boa esperança, e que deuses e deusas, do mar e da terra, caminhem juntos para salvar o que parece fadado à queda...

4 de ago. de 2017

Um pouco de Melodia

“Se alguém quer matar-me de amor / Que me mate no Estácio...”. Da relação que o samba e o futebol carregam, trato, pois, dessa simbiose; de quem partiu, de quem ficou; de quem se eternizou.

Luiz Carlos dos Santos, nome apadrinhado pelas terras tupiniquins, comum por essas bandas, mas que alçou um voo estratosférico quando adotou a/o Melodia, deixando algo belo, que toca alma.

Se traçarmos um paralelo com o nosso destemido futebol, entenderemos que não é só a brutalidade quem determina; a genialidade, bem como o toque de sensibilidade são essenciais. Cada letra, cada gol ou cada grito entoado tanto no show quanto no campo representam a leveza e a suavidade que só a arte pode entregar, e que Melodia sabia bem representar.

Dá fase ruim tira-se lição, coça-se a cabeça e se pensa pra frente. Na derrota, podemos identificar, se quisermos, o que realmente está fora do eixo, nos tornamos humildes de novo. Pois que assim seja com o combalido São Paulo, que sempre ostentou o brilho e a armadura de um imortal, mas que se vê diante do abismo dos comuns.

De “Congênito”, podemos citar um verso apropriado, ideal pra hora: Se a gente falasse menos / Talvez compreendesse mais... pensasse mais, trabalhasse mais. Que ficaria aqui citando passagens apropriadas horas a fio, mas Melodia não pode ser escanteado pra rua da amargura, ao contrário, deve ter o nome gravado às paredes do eterno e cantado aos sete ventos.

Que esses ventos de genialidade soprados para a música se convertam em novos tempos para a torcida tricolor, pois a vida não anda fácil e a porta para a queda é logo ali.