Não, não sou dos que odeiam a
seleça, dos que torcem contra ou dos que torcem pela Argentina (simpatizo com
nossos Hermanos, pero yo soy Brasil).
Ontem, 29/03, decidi que era hora
de parar e pagar pra ver o tão badalado e comentado time de Tite. Contudo, algo
não me pareceu no eixo, no seu devido lugar. Logo de cara já consegui
identificar tal prerrogativa, mas não sabia exatamente o que era. O scratch
canarinho vinha se apresentando bem, trocava passes como quem não se importa
com o outro e, claro, abriu o placar ainda na primeira etapa.
O estalo veio a partir daí. Quem
comemorou, como comemorou, para que comemorou? Desencadeei uma série de
pensamentos que levaram a um único fim: esqueceram do torcedor.
Claro, aos olhos de quem lê, pode
soar um tanto quanto preconceituoso, mas pinto este quadro da seguinte maneira:
ingresso a partir de duzentos reais (A PARTIR!); proibição de bandeiras,
instrumentos, badulaques e fantasias; pra onde foram as luzes, a fumaça, o fogo;
e o principal, a falta do torcedor pobre, fanático, que vive de futebol, se
alimenta da discussão, faz da torcida um meio de vida. Para quem foi feito o
espetáculo?
Criar um monumento de concreto e
mármore traz determinada sensação de grandeza, a grandeza de e para poucos, mas
coloca à margem quem mais dá pelo futebol, quem mais oferta e quem mais procura;
quem faz o futebol respirar, de fato. Agregar a isso o impeditivo de um valor
estratosférico, proporcionalmente às condições do povo, para um único jogo no
ano de nossa seleção em solo paulistano, dita claramente a intenção de
abandonar o popular.
É uma pena, uma pena que o povo não
consiga se apropriar de algo tão presente em seu passado recente. Algo que
certamente alentou os corações sofridos, as gerações afetadas por mandos e
desmandos e que tinham no futebol uma válvula de escape lúdica e honesta.
O conforto, o que é um contrassenso,
vem do meu time, do seu time, dos times espalhados pelo Brasil, que ainda permitem o acesso da grande massa
ao espetáculo. Ainda é possível participar, viver a atmosfera, por mais que esse
vírus detectado, o da elitização, esteja se espalhando, e que me faz crer que
sim, eu tenho uma seleção, e essa seleção tem nome, sobrenome e lugar cravado
na minha ordem de prioridades: chama-se São Paulo Futebol Clube.