2 de mai. de 2017

Recorte do papo de boteco

Sentado ao balcão do bar, encucado com os afazeres da vida, surge o batido, mas oportuno papo de boteco. Com o futebol em primeiro plano, abrem-se as cortinas do debate.


Copo sobe, copo desce, um sujeito, que obviamente não me recordo sequer o nome, faz a seguinte ultrajante indagação: Você tem inveja da grana e dos jogadores do meu time? Por um momento pensei em me levantar, pagar a conta miúda e me retirar, mas discussão do balcão do bar não se foge, ao contrário, como São Jorge, enfrenta-se o dragão.

Com a devida licença ao mestre, respondi que inveja tenho da longevidade e dos orgasmos múltiplos... Que para minha surpresa, Caetano foi relembrado pelo sujeito, que logo soltou uma gargalhada num misto de desconforto e humor puro, afinal, quem não teria inveja dos tostões que compram títulos?

A partir dessa resposta, me coloquei sob o pano da introspecção. O papo murchou, os ânimos se aplainaram e o copo foi ficando cada vez menos solicitado. A ideia de invejar essa parte do esporte me causa certo transtorno e o caro amigo anônimo assim o percebeu, respeitando o luto do tema proposto.

Coloquei meu ponto sobre a questão monetária da coisa, que abrange aspectos doentes não só do esporte bretão, mas da sociedade como um todo. Não sei se fui aceito, mas fui ouvido e com a devida atenção que o tema demanda.

Decidi enveredar por outros caminhos. Tentei retomar a relação próxima com o copo meio vazio e abri novo canal pro diálogo, deixando o futebol meio que pra escanteio. Me aventurei pelo sinistro e pantanoso lado político da coisa, digo, do país; lamentei ter saído de casa... Quando me dei conta, queria apenas voltar pro futebol, abraçar com carinho de pai essa conversa, mas era tarde.


O fim de semana sem jogo do teu time é frio, chega a quase congelar quando precede uma semana igualmente sem. Mas que a conversa do bar, mesmo com seus despropósitos, não deixa a chama apagar, faz lembrar que, cedo ou tarde, ele volta e o copo vai estar lá, com amigos involuntários e momentâneos a tratar das coisas aleatórias.

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