Sentado ao balcão do bar,
encucado com os afazeres da vida, surge o batido, mas oportuno papo de boteco.
Com o futebol em primeiro plano, abrem-se as cortinas do debate.
Copo sobe, copo desce, um
sujeito, que obviamente não me recordo sequer o nome, faz a seguinte ultrajante
indagação: Você tem inveja da grana e dos jogadores do meu time? Por um momento
pensei em me levantar, pagar a conta miúda e me retirar, mas discussão do
balcão do bar não se foge, ao contrário, como São Jorge, enfrenta-se o dragão.
Com a devida licença ao mestre,
respondi que inveja tenho da longevidade e dos orgasmos múltiplos... Que para
minha surpresa, Caetano foi relembrado pelo sujeito, que logo soltou uma
gargalhada num misto de desconforto e humor puro, afinal, quem não teria inveja
dos tostões que compram títulos?
A partir dessa resposta, me coloquei
sob o pano da introspecção. O papo murchou, os ânimos se aplainaram e o copo
foi ficando cada vez menos solicitado. A ideia de invejar essa parte do esporte
me causa certo transtorno e o caro amigo anônimo assim o percebeu, respeitando
o luto do tema proposto.
Coloquei meu ponto sobre a questão monetária
da coisa, que abrange aspectos doentes não só do esporte bretão, mas da
sociedade como um todo. Não sei se fui aceito, mas fui ouvido e com a devida
atenção que o tema demanda.
Decidi enveredar por outros
caminhos. Tentei retomar a relação próxima com o copo meio vazio e abri novo
canal pro diálogo, deixando o futebol meio que pra escanteio. Me aventurei pelo
sinistro e pantanoso lado político da coisa, digo, do país; lamentei ter saído
de casa... Quando me dei conta, queria apenas voltar pro futebol, abraçar com
carinho de pai essa conversa, mas era tarde.
O fim de semana sem jogo do teu
time é frio, chega a quase congelar quando precede uma semana igualmente sem. Mas
que a conversa do bar, mesmo com seus despropósitos, não deixa a chama apagar,
faz lembrar que, cedo ou tarde, ele volta e o copo vai estar lá, com amigos
involuntários e momentâneos a tratar das coisas aleatórias.
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