O esporte sempre permeou todo e
qualquer momento que me vem à memória, desde o princípio da compreensão das
coisas. Uma constante desde a primeira infância, vivenciei as disputas
desportivas de forma assídua, o que persiste até data presente.
Das disputas, me propunha a
pratica de toda e qualquer modalidade, mas com um viés claro evidenciado: o
gol. Nas alterações hormonais da juventude, balançava entre posições. Ora
gostava de fazer o gol, ora encontrava a beleza na defesa da baliza.
Contudo, a arte que encontramos
em todas as partículas vivas até onde a visão alcança, não se baseou no jogo em
si. O contexto é algo que cria e move o sentimento, caracterizado pelo conjunto
de fatores que tratam de delinear uma atmosfera de prazer. Neste contexto,
voltando à juventude, defini em determinado momento que gostaria de ser
goleiro, lastimável.
Adepto da plasticidade, tinha em
mente uma única finalidade para a minha não tão bem aventurada ida à meta:
tomar gol bonito. Claro, ninguém entra em campo (ou quadra) para perder, mas comecei
a encontrar beleza à solidão cruel do goleiro no momento de um belo gol, um gol
de placa, afinal, sua arte se completa quando da desgraça do guarda metas, ou
seja, o goleiro é complemento imprescindível de tal obra.
Passo, pois, a descrever minha
ideia de um belo gol, no qual eu era parte fundamental buscando a bola no fundo
das redes: a jogada se constrói desde o campo de defesa adversário, iniciando o
ataque pelo goleiro, que solta a bola ao beque de fazenda, este, de simples (e
bico), empurra a bola direto ao meia, o 10, que já na intermediária de ataque
faz uma bela finta de corpo no marcador, o volante brucutu, e dispara com a
canhota, chapando a bola com uma curva generosa, que encontra a rede lateral do
retângulo, caindo suave após um deslize vulgar. Golaço!
Meu papel, enquanto última
esperança de salvação, seria o de observar estático ao centro do gol, com um
movimento calculado, onde somente o pescoço toma a ação com a missão de mover
os olhos à admiração. A dúvida no grand finale do misancene ficava entre permanecer
em pé ou criar um novo movimento, já após a efusiva comemoração do rival, onde
dobro as pernas e caio para trás, apresentando aos demais o retrato da
desolação. Escolhi ficar de pé, petrificada pela magnitude do momento que criei.
Claro, o resultado de tal
empreitada não poderia ser outro se não a abreviação de uma carreira nada
promissora. Abandonei a ideia ao primeiro ato, já que os demais não entenderam
a arte suprimida, mas carrego esta polaroide grudada na cabeça, sem culpa de
ter vivido a magia do gol.